Crônica: Mamonas Assassinas: Humor, Crítica Social e um Brasil que Não Mudou

Os Mamonas Assassinas marcaram uma geração com seu humor irreverente e letras escrachadas, mas por trás das piadas havia uma crítica social afiada que, se olharmos bem, ainda faz todo sentido nos dias de hoje. O vocalista Dinho, natural de Irecê, na Bahia, e seus companheiros de banda usavam a música para debochar das desigualdades, do consumismo desenfreado e das promessas vazias da política.

Se nos anos 90 eles cantavam "Fome, miséria, incompreensão, o Brasil é tetra campeão", hoje, com o país penta, a realidade não mudou muito. O preço das coisas dispara, o povo pena para colocar comida na mesa, e a política segue num jogo de interesses que pouco melhora a vida de quem mais precisa. Os Mamonas tinham esse dom de colocar o dedo na ferida de maneira leve, mas certeira.

Em músicas como Chopis Center, eles ironizavam o consumo desenfreado e o desejo inalcançável de status: "A minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia". Algo que continua atual, com muitas famílias recorrendo a parcelas infinitas para ter um pouco de conforto.

Outra pancada certeira era na política. Em Cabeça de Bagre II, cantavam "Na política, o futuro de um país, cale a boca e tire o dedo do meu nariz". O recado é claro: o povo sempre foi feito de bobo, enquanto a classe política segue mantendo seus próprios interesses.

Os Mamonas também expunham a falta de perspectivas da juventude, o abandono social e o preconceito com muito sarcasmo, mas a mensagem estava ali. O Brasil mudou, mas os problemas são os mesmos. Se estivessem vivos, talvez cantassem sobre o aumento da gasolina, a dificuldade de comprar carne ou a ilusão das redes sociais.

A música deles segue viva porque não era só besteirol, era um retrato do Brasil real. E hoje, mais do que nunca, vale lembrar do legado dos Mamonas Assassinas, que com humor e ironia, conseguiram dizer tudo o que muitos pensavam, mas poucos tinham coragem de falar.

Roberto Souza
Jornalista e redator do portal Irecê Agora


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